De
Milão a Roma
Cassiano Fernandez
Dentre as cidades italianas que visitei, com certeza Milão conquistou o
título de cidade mais acessível.
Ir ao teatro Alla Scala –
principal casa de ópera do mundo – foi sem dúvida uma das grandes emoções que
já vivi.
Durante minha visitação, quando entrei em um dos camarotes para melhor
visualizar a sala de espetáculos, vi o palco de frente. Fechei os olhos e
imaginei a montagem da ópera La Traviata de
1953, com Maria Callas como Violetta, personagem principal.
Resolvemos com bastante antecedência que sairíamos da cidade em direção
a Roma de trem-bala.
Graças a uma promoção, pegamos passagens de primeira classe, uma coisa
confortabilíssima: poltronas de couro preto reclináveis, serviço de bordo e, ao
olhar para o lado pela janela, vislumbrava-se uma paisagem insuportavelmente
deslumbrante.
Para situar o leitor, é necessário dizer que uma viagem de carro entre
estas duas cidades demora de quatro a cinco horas, e quando a mesma é feita de
trem-bala reduz-se esse tempo a duas horas e meia.
Chegando em Roma, havíamos contratado uma van para fazer o translado da
estação de trem até o nosso flat.
O motorista era um romano típico, seguramente poderia ser comparado a
um daqueles impagáveis personagens do mestre do cinema italiano Federico Fellini.
Dirigia no trânsito caótico da capital italiana com uma calma
assustadora.
Eis, então, que seu celular soa no bolso do paletó. O homem atendeu o
celular e continuou dirigindo com apenas uma das mãos enquanto praguejava
contra o seu interlocutor do outro lado da linha.
Era com certeza um grave problema de família que aqui não vou me ater
aos detalhes, mas fato é que o homem soltou a franga e estava visivelmente
alterado, e com certeza fiava-se na crença de que nenhum dos passageiros falava
seu idioma.
A conversa telefônica era tão dramática e cômica quanto uma baixaria
típica do programa do Ratinho.
O homem xingava a mulher do outro lado da linha de tudo quanto era
nome, ouso dizer até que vagabunda foi o adjetivo mais leve usado.
Eu, com o corpo todo contraído devido ao nervoso, tentava traduzir com
gaguejos no ouvido de minha mãe o que estava sendo dito.
Quando finalmente o carro estacionou em frente ao flat, junto com uma
sensação de alívio me veio o seguinte pensamento:
- UFA! Chegamos com vida!
O simpático senhor ajudou a retirar as malas do automóvel e se despediu
como se nada tivesse acontecido.
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