Aeroporto
inacessível
Cassiano Fernandez
Já há alguns anos uma viagem pela Europa em família com duração de 25
dias vinha sendo planejada. Tudo estava sendo cuidado para que uma vez no
exterior nenhum problema ocorresse, todos os hotéis e passagens pagos com
antecedência, além de outras coisas mais. E tudo correu maravilhosamente bem
até o dia dezenove de abril de dois mil e quatorze, dia marcado para
embarcarmos – eu, meu pai e minha mãe –, juntamente com um casal de amigos e
seu filho, do Rio de Janeiro para Paris.
Chegamos ao aeroporto internacional Antônio Carlos Jobim com duas horas
de antecedência, conforme pedido pela companhia aérea Air France, já que o
embarque de um cadeirante envolve um protocolo que demora, digamos, um século.
Aproveitando a chegada com antecedência, minha mãe e meu pai quiseram ir ao
Free Shopping fazer umas comprinhas e uma encomenda para a volta. A grande
surpresa estava por vir: a loja do Free Shopping se localizava no segundo andar
e era acessada por uma desagradável escada rolante ou por elevador de uso
exclusivo para cadeirantes que, por isso mesmo, vive trancado a chave.
O problema foi que, pedindo informação daqui e dali, e como os
perguntados sempre jogassem a responsabilidade para cima de outros, não
conseguimos saber onde e com quem estava a chave.
A única solução era procurarmos um funcionário da Air France para pedir
informação. Foi então que meu pai teve a ideia de ir comigo até a sala Vip da
companhia, onde com certeza haveria funcionários da empresa.
Qualquer um sabe que apenas passageiros da primeira classe ou da classe
executiva têm o direito de frequentar a sala Vip, até aí tudo bem, pois só
estávamos indo lá em busca da resposta para a grande pergunta: onde teria ido
parar a chave do elevador?
Entramos na sala Vip para pedir informação e a primeira reação do rapaz
atrás do balcão de atendimento foi perguntar:
- Vocês são da primeira classe ou da executiva?
Diante da negativa de papai o homem começou a nos tratar com uma frieza
congelante, como quem dissesse:
- O quê? Classe econômica? Fora daqui!
Percebendo que quanto mais argumentássemos mais o homem nos trataria
com olhar de reprovação, resolvemos sair dali e procurar outra solução para o
problema.
Quando voltamos para onde estava o resto do grupo que viajaria conosco,
tratei logo de contar a história de maneira jocosa, como é bem do meu feitio.
Comecei com a seguinte declaração:
- Nunca imaginei, em toda minha vida, que seria expulso da sala Vip!
A mulher do outro casal, uma amiga de infância de minha mãe, resolveu,
por assim dizer, tomar nossas dores dizendo:
- O quê? Não! Espera que eu vou resolver isso!
Proferindo tal frase, dirigiu-se diretamente à sala Vip, onde, dizem,
pois eu não estava lá para ver a cena, que armou um pequeno escândalo para que
o elevador fosse liberado.
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