RIO - O secretário municipal de Turismo, Antônio Pedro Figueira de Mello, pediu desculpas na tarde desta quarta-feira pela declaração sobre a falta de planejamento da cidade para receber pessoas com deficiência durante a Copa do Mundo. Antônio Pedro admitiu na terça-feira, em entrevista à rádio CBN, a falta de preparo da cidade e disse ainda que esse não é o público-alvo do evento. As declarações provocaram a reação de grupos ligados à defesa dos direitos dos deficientes.
“Peço desculpas por ter me expressado mal. Vamos trabalhar bastante para prover todo o público com as informações e a atenção que ele merece”, diz Antonio Pedro em nota divulgada pela Riotur.
No comunicado, ele reconhece que o município não dispõe de material de informações turísticas em braile ou áudio. “Esta é uma deficiência da nossa secretaria e também motivo de atenção. Vamos procurar as associações e institutos que se dedicam ao tema para nos auxiliarem na produção de material adequado”, afirma o secretário.
Se referindo a portadores de deficiência, Antônio Pedro declarou na terça que na Copa do Mundo “não há tanto esse público”:
— A gente não teve toda essa atenção necessária (em relação às pessoas portadoras de deficiência). A gente tem diversos postos que já têm atendimento para isso. Mas não são todos os locais. Essa é a realidade da cidade do Rio e Janeiro. Até porque a gente analisa muito o público que vem para um evento como esse. E para a Copa do Mundo não há tanto esse público.
Superintendente do Instituto Brasileiro dos Direitos da Pessoa com Deficiência (IBDD), Teresa d´Amaral critica a declaração do secretário e afirma que o Rio passará vergonha em termos de acessibilidade durante a Copa:
— A declaração dele é uma afirmação de discriminação explícita em relação à pessoa com deficiência. E ela implica no reconhecimento de que a não está preparada nem para os seus próprios cidadãos.
Teresa diz que a cidade não melhorou em termos de acessibilidade durante os preparativos para a Copa. E completa: o Rio não está preparado para receber as Paralimpíadas de 2016. Pelo último censo do IBGE, vivem no município cerca de 400 mil pessoas com algum tipo de deficiência.
— O Rio é uma cidade totalmente hostil para a pessoa com cadeira de rodas, surda e cega. A surda não encontra atendimento apropriado nos serviços da cidade. No Rio, não há sinal para cego. E o direito de ir e vir do cadeirante não pode ser exercido porque a cidade não tem acessibilidade arquitetônica nem prédios públicos e particulares acessíveis — afirma a superintendente do IBDD, entidade que já entrou na Justiça com três ações para garantir a acessibilidade nos transportes, em prédios públicos e em edifícios de uso coletivo, como restaurantes, teatros e universidades.
O presidente da Associação dos Deficientes Visuais do Estado do Rio de Janeiro, Márcio Aguiar, também interpreta a declaração do secretário de Turismo como discriminatória:
— Foi uma bola fora do secretário. Se ele fosse atacante da seleção, a gente não ia ganhar a Copa — ironiza Márcio, que é cego. — Todo tratamento diferenciado é caracterizado como discriminação. Você não pode dizer que o deficiente não é o publico de um evento a priori. Isso vai na contramão do que se pensa em relação à inclusão e cidadania. Todos somos iguais. Se eu quiser ir ao estádio, se tenho dinheiro para ir, como faço? Tudo é padrão Fifa, menos para os deficientes.
(O Globo Online, 28/05/2014)
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