Cartaz do lançamento do livro
Regina Cohen e, de pé, sua mãe, Margarida Cohen, e seus irmãos Alberto David Cohen e Dib Cohen
Regina e, da esquerda para a direita, Augusto Fernandes, Carlos Leitão, Andrei Bastos e Érica Monteiro
Regina Cohen e Ana Cláudia Monteiro
Sobre o livro
A acessibilidade aos Centros Urbanos tem se tornado uma preocupação no
discurso projetual das cidades e da arquitetura. Apesar disto, no âmbito da
pesquisa acadêmica do Núcleo Pró-acesso da UFRJ, a “acessibilidade plena”[1]
continua apenas no "discurso" e não costuma ser corretamente
interpretada e aplicada por parte do profissional responsável pelo planejamento
dos espaços das nossas cidades.
Apesar de o Brasil ser um país com leis e normas de acessibilidade consideradas
avançadas, fazendo jus à qualificação dos especialistas que as desenvolveram,
nem sempre os arquitetos ligados ao planejamento do espaço urbano estão aptos a
reconhecer quando o local é acessível de fato. Ainda é muito comum a ideia de
que a colocação de uma rampa é um fator suficiente para permitir o acesso de
idosos, pessoas com mobilidade reduzida ou pessoas com deficiência sensorial,
física ou intelectual.
Este livro traz um conjunto de ferramentas desenvolvidas por
pesquisadores brasileiros para permitir laudos técnicos de “acessibilidade
plena” (DUARTE & COHEN, 2012). Considerando-se os parâmetros de
acessibilidade estabelecidos nas pesquisas acadêmicas e nas normas brasileiras,
o trabalho propõe uma abordagem multimétodos, contemplando o cruzamento de
tabelas com levantamentos fotográficos, mapeamento e análise de percursos
definidos a partir dos maiores fluxos de circulação de pedestres.
O livro apresenta, o resultado da aplicação desses métodos na Região
Central da Cidade do Rio de Janeiro, propondo um debate maior pelo
aperfeiçoamento desse tipo de estudo.
Nossa metodologia aponta para a necessidade de uma visão mais holística
do espaço projetado, com vistas a permitir uma maior apropriação das cidades
por parte de todos os cidadãos.
Após esta breve Introdução, percebemos
claramente o repensar e a discussão de uma nova perspectiva conceitual acerca da
acessibilidade nas cidades. Hoje, buscamos compreender o sentido de caminhar
livremente por ruas, espaços e calçadas com facilidade, prazer e deleite.
Procuramos, em
um primeiro momento, repensar o significado do conceito de “Acessibilidade”,
atribuindo a este termo um conteúdo mais abrangente do que simplesmente o da
eliminação de barreiras ou das soluções físicas de acesso. Assim, desenvolvemos
o conceito de “acessibilidade plena”.
“O Conceito de
Acessibilidade Plena parte do
princípio de que apenas uma boa acessibilidade física não é suficiente
para que o espaço possa ser compreendido e DE FATO usufruído por todos. A
Acessibilidade Plena significa considerar mais do que apenas a acessibilidade
em sua vertente física e prima pela adoção de aspectos emocionais, afetivos e
intelectuais indispensáveis para gerar a capacidade do Lugar de acolher
seus visitantes e criar aptidão no local para desenvolver empatia e afeto em
seus usuários”
Cristiane Rose
Duarte e Regina Cohen, 2012.
Anteriormente,
as medidas de acessibilidade se restringiam às Pessoas com Deficiência e, mais
especificamente, àquelas que se locomoviam em cadeira de rodas. Esta era uma
visão bastante simplista da acessibilidade.
Por estas
razões, hoje nossa equipe busca repensar o verdadeiro significado de
“acessibilidade”, abandonando uma visão cartesiana, unilateral e específica. Começamos
a pensar nas atribuições do espaço que favorecem os processos de identificação
com um determinado Lugar. Para que isto ocorra, as ambiências devem permitir os
percursos, serem atrativas, agradáveis, convidativas e compreensíveis,
facilitando o encontro e a troca com o Outro.
Muitas vezes,
criam-se estes percursos exclusivos sem qualquer preocupação com o desgaste
emocional, psicológico ou físico do transeunte. Tais caminhos tornam-se vazios
e carentes de estímulos à interssensorialidade própria e peculiar das cidades.
Não é possível
pensar o planejamento das cidades com medidas exclusivas para as pessoas que
possuem alguma deficiência. Isto poderá cristalizar o estigma já existente em
nossa sociedade e fortalecer uma visão redutora da diferença e da normalidade.
Estas são algumas das
razões que nos levaram a repensar a Acessibilidade como um dos elementos a
serem buscados para a “Boa Forma da Cidade” (LYNCH, 1999) e como uma meta a ser
perseguida. Essa alteração de postura requer uma transformação atitudinal dos
profissionais de planejamento urbano que deverão, assim, reavaliar a própria
noção de deficiência em seus projetos.
Nossas reflexões seguem um movimento mundial
relativamente recente. A evolução nas discussões entre especialistas, teóricos,
acadêmicos e praticantes da cidade fez surgir a filosofia do Desenho Universal
ou para todos. Pensar em um planejamento urbano mais inclusivo e universal pode
representar a independência e a autonomia buscadas pelas pessoas com
deficiência nos seus percursos pela cidade.
Nesse processo, pode-se dizer que a
“Acessibilidade Plena” e o Desenho Universal abrem as portas para a
identificação da pessoa com deficiência com a Cidade, diluindo e transformando
as dificuldades na locomoção. Acreditamos que este deva ser o contexto da
acessibilidade na compreensão da função social de ruas, calçadas e espaços
públicos a serem percorridos pelo corpo no seu cotidiano físico, sensorial e
intelectual.
Com as premissas aqui delineadas, este livro
apresenta resultados da avaliação da acessibilidade nas ruas de zonas centrais
do Rio de Janeiro. O diagnóstico de acessibilidade foi efetuado pelo Núcleo
Pró-acesso, vinculado ao Programa de Pós-graduação na Faculdade de Arquitetura
e Urbanismo da Universidade Federal do Rio de Janeiro (Núcleo
Pró-acesso/PROARQ/FAU/UFRJ).
Apesar das transformações pelas quais a cidade
vem passando, é possível perceber que ainda são muitas as barreiras de
acessibilidade existentes. A falta de manutenção nas calçadas de pedra
portuguesa, que antes eram convidativas ao passeio, faz com que já não sejam
tão atraentes, pois qualquer caminhada é, na verdade, uma grande aventura na
qual se tenta passar ileso.
Nesse contexto e devido aos muitos erros de
projeto, a meta buscada foi a elaboração de subsídios
que poderão contribuir para um Plano Estratégico de “Acessibilidade Plena” na
Cidade do Rio de Janeiro.
O livro traz a metodologia desenvolvida e
utilizada no trabalho, mostrando as ferramentas empregadas para o diagnóstico
das ruas, levando em consideração as teorias sobre a exclusão espacial (Cohen e
Duarte, 1995) que estão na base desta publicação.
Na sequência, os resultados
encontrados e as sugestões para as modificações são comentados na conclusão do
texto. A metodologia empregada poderá, assim, ser submetida a outros grupos que
se debruçam sobre o mesmo tema no mundo, no Brasil e no Rio de Janeiro,
esperando aperfeiçoar-se para os muitos e novos empreendimentos a serem
realizados, buscando a construção de uma cidade mais inclusiva e acessível para
todos.
[1] O conceito de “Acessibilidade Plena” (DUARTE &
COHEN, 2012) foi desenvolvido por Cristiane Rose Duarte e Regina Cohen no
âmbito das pesquisas e dos projetos desenvolvidos pelo Núcleo Pró-acesso da
UFRJ (Ver também, por exemplo: Duarte, Cohen, Brasileiro & Lira, 2013) .
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