terça-feira, 22 de julho de 2014

Lançamento do livro sobre Acessibilidade no Rio


 Cartaz do lançamento do livro
 Regina Cohen e, de pé, sua mãe, Margarida Cohen, e seus irmãos Alberto David Cohen e Dib Cohen
 Regina e, da esquerda para a direita, Augusto Fernandes, Carlos Leitão, Andrei Bastos e Érica Monteiro
Regina Cohen e Ana Cláudia Monteiro

Sobre o livro

A acessibilidade aos Centros Urbanos tem se tornado uma preocupação no discurso projetual das cidades e da arquitetura. Apesar disto, no âmbito da pesquisa acadêmica do Núcleo Pró-acesso da UFRJ, a “acessibilidade plena”[1] continua apenas no "discurso" e não costuma ser corretamente interpretada e aplicada por parte do profissional responsável pelo planejamento dos espaços das nossas cidades.
Apesar de o Brasil ser um país com leis e normas de acessibilidade consideradas avançadas, fazendo jus à qualificação dos especialistas que as desenvolveram, nem sempre os arquitetos ligados ao planejamento do espaço urbano estão aptos a reconhecer quando o local é acessível de fato. Ainda é muito comum a ideia de que a colocação de uma rampa é um fator suficiente para permitir o acesso de idosos, pessoas com mobilidade reduzida ou pessoas com deficiência sensorial, física ou intelectual.
Este livro traz um conjunto de ferramentas desenvolvidas por pesquisadores brasileiros para permitir laudos técnicos de “acessibilidade plena” (DUARTE & COHEN, 2012). Considerando-se os parâmetros de acessibilidade estabelecidos nas pesquisas acadêmicas e nas normas brasileiras, o trabalho propõe uma abordagem multimétodos, contemplando o cruzamento de tabelas com levantamentos fotográficos, mapeamento e análise de percursos definidos a partir dos maiores fluxos de circulação de pedestres.
O livro apresenta, o resultado da aplicação desses métodos na Região Central da Cidade do Rio de Janeiro, propondo um debate maior pelo aperfeiçoamento desse tipo de estudo.
Nossa metodologia aponta para a necessidade de uma visão mais holística do espaço projetado, com vistas a permitir uma maior apropriação das cidades por parte de todos os cidadãos.
Após esta breve Introdução, percebemos claramente o repensar e a discussão de uma nova perspectiva conceitual acerca da acessibilidade nas cidades. Hoje, buscamos compreender o sentido de caminhar livremente por ruas, espaços e calçadas com facilidade, prazer e deleite.
Procuramos, em um primeiro momento, repensar o significado do conceito de “Acessibilidade”, atribuindo a este termo um conteúdo mais abrangente do que simplesmente o da eliminação de barreiras ou das soluções físicas de acesso. Assim, desenvolvemos o conceito de “acessibilidade plena”.
“O Conceito de Acessibilidade Plena parte do princípio de que apenas uma boa acessibilidade física não é suficiente para que o espaço possa ser compreendido e DE FATO usufruído por todos. A Acessibilidade Plena significa considerar mais do que apenas a acessibilidade em sua vertente física e prima pela adoção de aspectos emocionais, afetivos e intelectuais indispensáveis para gerar a capacidade do Lugar de acolher seus visitantes e criar aptidão no local para desenvolver empatia e afeto em seus usuários”
Cristiane Rose Duarte e Regina Cohen, 2012.
Anteriormente, as medidas de acessibilidade se restringiam às Pessoas com Deficiência e, mais especificamente, àquelas que se locomoviam em cadeira de rodas. Esta era uma visão bastante simplista da acessibilidade.
Por estas razões, hoje nossa equipe busca repensar o verdadeiro significado de “acessibilidade”, abandonando uma visão cartesiana, unilateral e específica. Começamos a pensar nas atribuições do espaço que favorecem os processos de identificação com um determinado Lugar. Para que isto ocorra, as ambiências devem permitir os percursos, serem atrativas, agradáveis, convidativas e compreensíveis, facilitando o encontro e a troca com o Outro.
Muitas vezes, criam-se estes percursos exclusivos sem qualquer preocupação com o desgaste emocional, psicológico ou físico do transeunte. Tais caminhos tornam-se vazios e carentes de estímulos à interssensorialidade própria e peculiar das cidades.
Não é possível pensar o planejamento das cidades com medidas exclusivas para as pessoas que possuem alguma deficiência. Isto poderá cristalizar o estigma já existente em nossa sociedade e fortalecer uma visão redutora da diferença e da normalidade.
Estas são algumas das razões que nos levaram a repensar a Acessibilidade como um dos elementos a serem buscados para a “Boa Forma da Cidade” (LYNCH, 1999) e como uma meta a ser perseguida. Essa alteração de postura requer uma transformação atitudinal dos profissionais de planejamento urbano que deverão, assim, reavaliar a própria noção de deficiência em seus projetos.
Nossas reflexões seguem um movimento mundial relativamente recente. A evolução nas discussões entre especialistas, teóricos, acadêmicos e praticantes da cidade fez surgir a filosofia do Desenho Universal ou para todos. Pensar em um planejamento urbano mais inclusivo e universal pode representar a independência e a autonomia buscadas pelas pessoas com deficiência nos seus percursos pela cidade.
Nesse processo, pode-se dizer que a “Acessibilidade Plena” e o Desenho Universal abrem as portas para a identificação da pessoa com deficiência com a Cidade, diluindo e transformando as dificuldades na locomoção. Acreditamos que este deva ser o contexto da acessibilidade na compreensão da função social de ruas, calçadas e espaços públicos a serem percorridos pelo corpo no seu cotidiano físico, sensorial e intelectual.
Com as premissas aqui delineadas, este livro apresenta resultados da avaliação da acessibilidade nas ruas de zonas centrais do Rio de Janeiro. O diagnóstico de acessibilidade foi efetuado pelo Núcleo Pró-acesso, vinculado ao Programa de Pós-graduação na Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal do Rio de Janeiro (Núcleo Pró-acesso/PROARQ/FAU/UFRJ).
Apesar das transformações pelas quais a cidade vem passando, é possível perceber que ainda são muitas as barreiras de acessibilidade existentes. A falta de manutenção nas calçadas de pedra portuguesa, que antes eram convidativas ao passeio, faz com que já não sejam tão atraentes, pois qualquer caminhada é, na verdade, uma grande aventura na qual se tenta passar ileso.
Nesse contexto e devido aos muitos erros de projeto, a meta buscada foi a elaboração de subsídios que poderão contribuir para um Plano Estratégico de “Acessibilidade Plena” na Cidade do Rio de Janeiro.
O livro traz a metodologia desenvolvida e utilizada no trabalho, mostrando as ferramentas empregadas para o diagnóstico das ruas, levando em consideração as teorias sobre a exclusão espacial (Cohen e Duarte, 1995) que estão na base desta publicação.
Na sequência, os resultados encontrados e as sugestões para as modificações são comentados na conclusão do texto. A metodologia empregada poderá, assim, ser submetida a outros grupos que se debruçam sobre o mesmo tema no mundo, no Brasil e no Rio de Janeiro, esperando aperfeiçoar-se para os muitos e novos empreendimentos a serem realizados, buscando a construção de uma cidade mais inclusiva e acessível para todos.



[1] O conceito de “Acessibilidade Plena” (DUARTE & COHEN, 2012) foi desenvolvido por Cristiane Rose Duarte e Regina Cohen no âmbito das pesquisas e dos projetos desenvolvidos pelo Núcleo Pró-acesso da UFRJ (Ver também, por exemplo: Duarte, Cohen, Brasileiro & Lira, 2013) .

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