Futebol,
arte por mim incompreendida
Cassiano
Fernandez
Já faz alguns anos, eu não conseguiria
hoje precisar a data, que meu pai conseguira me convencer a acompanhá-lo ao
Maracanã para assistir a um clássico de futebol: Botafogo, nosso amado “fogão”,
contra o Friburguense.
Desde criança tal esporte nunca
conseguiu me cativar. Eu dava graças a Deus por não ser como a maioria das
crianças deficientes dos dias de hoje, que têm o sonho de poder tomar parte em
um jogo.
Mas uma vez que meu pai me garantiu que
teríamos todo o conforto, pois ele tinha conseguido tomar por empréstimo as
cadeiras cativas de um amigo e que isso, por conseguinte, nos daria direito
também à vaga na garagem do estádio, concordei em ir.
Chegamos lá com uma hora de
antecedência, estacionamos o carro com toda calma e fomos conduzidos por um
segurança a um elevador que levava às cadeiras cativas. De fato, ficamos em
local privilegiado: acima do público comum.
O jogo começou e logo veio o primeiro
gol, eu me sentia em 500 a.C. em Roma, no Coliseu, onde os espectadores
gritavam a cada vitória de seu gladiador.
Como não é de meu feitio, não gritei. Ao
contrário dos outros pagantes, bati palmas.
Enquanto o jogo acontecia, comecei a
olhar para a plateia abaixo de nós e percebi que esta tinha o costume de levar
comida para o estádio. É um tal de frango com farofa para cá, picolé para lá, e
toda a sorte de absurdos. E eu pensava:
- O que estas pessoas estão querendo? Comer
ou assistir ao jogo?
O Botafogo daria uma goleada em cima do
seu adversário de sete a zero, isso porque a árbitra do jogo, sim, era uma
mulher, anulara o oitavo gol do Glorioso, tendo que entubar um coro furioso que
vinha contra si, berrando:
-
Volta para o fogão, o teu lugar não é aqui não!
Achei aquilo de uma grosseria atroz. Afinal
de contas, a moça, jovem e bela, não estava fazendo mais nada senão o seu
trabalho.
Já não bastava a goleada que estava
acontecendo?
Havia mesmo a necessidade do oitavo gol?
Eu me questionava mentalmente.
É por essas e outras que nunca procurei
me envolver muito com este esporte, porque acaba que eu não consigo compreendê-lo
totalmente e, por mais que eu me esforce para encontrá-la, existirá sempre pairando
em minha mente uma pergunta sem resposta:
- Não poderiam os torcedores do time
vencedor assistir ao jogo em paz, sem que haja necessidade de agressões verbais
ou de qualquer outro tipo?
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