segunda-feira, 28 de julho de 2014

Experiências doidas do Cacá

Futebol, arte por mim incompreendida

Cassiano Fernandez

Já faz alguns anos, eu não conseguiria hoje precisar a data, que meu pai conseguira me convencer a acompanhá-lo ao Maracanã para assistir a um clássico de futebol: Botafogo, nosso amado “fogão”, contra o Friburguense.

Desde criança tal esporte nunca conseguiu me cativar. Eu dava graças a Deus por não ser como a maioria das crianças deficientes dos dias de hoje, que têm o sonho de poder tomar parte em um jogo.

Mas uma vez que meu pai me garantiu que teríamos todo o conforto, pois ele tinha conseguido tomar por empréstimo as cadeiras cativas de um amigo e que isso, por conseguinte, nos daria direito também à vaga na garagem do estádio, concordei em ir.

Chegamos lá com uma hora de antecedência, estacionamos o carro com toda calma e fomos conduzidos por um segurança a um elevador que levava às cadeiras cativas. De fato, ficamos em local privilegiado: acima do público comum.

O jogo começou e logo veio o primeiro gol, eu me sentia em 500 a.C. em Roma, no Coliseu, onde os espectadores gritavam a cada vitória de seu gladiador.

Como não é de meu feitio, não gritei. Ao contrário dos outros pagantes, bati palmas.

Enquanto o jogo acontecia, comecei a olhar para a plateia abaixo de nós e percebi que esta tinha o costume de levar comida para o estádio. É um tal de frango com farofa para cá, picolé para lá, e toda a sorte de absurdos. E eu pensava:

- O que estas pessoas estão querendo? Comer ou assistir ao jogo?

O Botafogo daria uma goleada em cima do seu adversário de sete a zero, isso porque a árbitra do jogo, sim, era uma mulher, anulara o oitavo gol do Glorioso, tendo que entubar um coro furioso que vinha contra si, berrando:

-  Volta para o fogão, o teu lugar não é aqui não!

Achei aquilo de uma grosseria atroz. Afinal de contas, a moça, jovem e bela, não estava fazendo mais nada senão o seu trabalho.

Já não bastava a goleada que estava acontecendo?

Havia mesmo a necessidade do oitavo gol?

Eu me questionava mentalmente.

É por essas e outras que nunca procurei me envolver muito com este esporte, porque acaba que eu não consigo compreendê-lo totalmente e, por mais que eu me esforce para encontrá-la, existirá sempre pairando em minha mente uma pergunta sem resposta:

- Não poderiam os torcedores do time vencedor assistir ao jogo em paz, sem que haja necessidade de agressões verbais ou de qualquer outro tipo?

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