Andrei Bastos, presidente do Comdef-Rio, e Cassiano Fernandez, o Cacá
Senhoras e senhores, o blog do Comdef-Rio tem o prazer de apresentar seu primeiro colunista, o jornalista muitíssimo gente boa Cassiano Fernandez, o Cacá. O nome da coluna será, obviamente, “Experiências doidas do Cacá”. Esperamos que vocês curtam bastante.
Introdução
(Chegando ao COMDEF-RIO)
Cassiano
Fernandez
No dia 25 de março comecei a prestar
serviços voluntários no COMDEF (Conselho Municipal de Defesa dos Direitos da
Pessoa com Deficiência). No meu primeiro dia de trabalho fui calorosamente
recebido pelo meu amigo e presidente do Conselho, Andrei Bastos. Este foi logo
me ambientando e me apresentou André Hissa, um rapaz sorridente e de semblante
apaziguador.
Começamos então a conversar com o
intuito de conhecer um ao outro, ele me fez perguntas e eu as devolvi. Assim
foi até que reparei que ao lado de onde André havia colocado sua mochila havia
um cabide com uma cobertura de náilon preto, daquelas onde se guardam ternos ou
vestidos de noite.
Olhando para aquilo comecei a imaginar
que tipo de roupa poderia haver ali dentro. Após alguns minutos de reflexão não
resisti e perguntei que roupa era aquela.
Ele então me respondeu sorrindo:
”Eu frequento um centro de
espiritualização e esta é uma roupa branca que eu uso quando lá estou.”
***
Uma
aventura Hindu
Cassiano Fernandez
Aquele era meu primeiro dia no COMDEF-RIO. Ao final do expediente pedi a André, meu prestativo colega de trabalho, que me acompanhasse até o metrô. Este concordou dizendo:
Aquele era meu primeiro dia no COMDEF-RIO. Ao final do expediente pedi a André, meu prestativo colega de trabalho, que me acompanhasse até o metrô. Este concordou dizendo:
”Claro, vamos que eu te levo e depois eu vou para aquele lugar
sobre o qual falamos mais cedo.”
Devo confessar ao leitor que durante
todo o dia estive curioso com relação a tal local.
Com entusiasmo, ao longo do percurso em
direção à estação, comecei a fazer-lhe perguntas sobre o lugar e o tipo de
atividades lá feitas.
André respondeu que basicamente se
tratava de um local específico para se cuidar dos males da alma e que ali você
poderia fazer consultas espirituais. Excitado com a resposta, pode-se dizer
que me convidei para ir junto.
Meu colega, surpreso, só conseguiu dizer
duas palavras:
“Então vamos! Vamos pegar um ônibus.”
Ao ouvir a última frase fui tomado por
uma contração proveniente da surpresa.
“Ônibus?”, disse eu mentalmente.
Até aquele momento nunca tinha andado de
ônibus na vida e me orgulhava disso.
Após ficar pensativo por alguns minutos,
perguntei:
“Aonde fica este centro?”
“Tijuca!”, ele respondeu. “Se chama IEVE”.
Ao subir no ônibus, só o fato de estar
sendo içado pela plataforma me proporcionou um misto de pavor e excitação. Ao
ser instalado no meu lugar percebi o quanto o ônibus estava lotado.
André estava sempre ao meu lado.
À minha frente havia um rapaz de pé que
perguntou se eu precisava de alguma coisa. Menos de um minuto após minha
negativa, o rapaz se lança para a janela que estava à sua frente e vomita.
Agradeço até hoje a agilidade do rapaz
em questão, pois não fosse isso aquele dia eu teria chegado em casa banhado por
excrementos estomacais.
Descemos do ônibus na Praça da Bandeira
quando André, envolto em sua calma e alegria, constatou que não poderíamos
atravessar a via devido a falta de sinalização e ao seu grande fluxo de
veículos.
Sem sair de seu estado sorridente ele me
diz:
“É, o único jeito é fazermos a travessia
pela passarela de pedestres.”
Uso para ir ao trabalho minha cadeira
motorizada que tem um peso considerável. Como subir um equipamento desse porte
numa passarela sem acessibilidade?
Basta dizer que além de André foram
necessários três homens de porte físico avantajado para que a subida fosse
concluída com sucesso. Na hora de descer foi o momento de maior apreensão para
todos que estavam envolvidos na tarefa. Foi então que um transeunte de camisa
polo e calça branca se recusou a prestar ajuda alegando que por algum motivo
minha cadeira poderia sujar suas preciosas calças.
De início fiquei meio contrariado, achei
um abuso, além de uma tremenda falta de cortesia, mas logo deixei isso de lado
porque percebi que ele poderia estar a caminho do trabalhou ou coisa que o
valha.
Tudo ocorreu bem, consegui chegar com
vida ao outro lado da passarela e chegamos à “IEVE”.
Lá chegando, André precipitou-se e foi
logo me apresentando o espaço e me perguntou se eu estaria interessado em me
consultar com um dos Chelas
disponíveis. Concordei e efetuei o pagamento de dez reais pela consulta.
André, me conduzindo até o elevador, disse:
“Vou te deixar na cantina e trocar de
roupa, pois minha aula começará em poucos minutos.”
Fiquei esperando André por volta de uma
hora. Durante este tempo fiquei parado onde ele havia me colocado observando os
sons do ambiente, pessoas que transitavam de um lado para outro e conversas
paralelas.
Tinha levado, ao sair do trabalho, um
livro para me distrair. Estava eu tranquilo e absorto em minha leitura quando tive
meu ombro cutucado – era André que tinha terminado sua aula e veio perguntar se
eu precisava de alguma coisa. Ao vislumbrar aquela criatura de branco dos pés à
cabeça, pensei:
“IH! Cheguei ao nirvana e esqueceram de
me avisar!”
Foi então que a vida em que eu parecia
não ter nada para fazer naquele momento me pregou uma de suas maiores peças.
Olho para o lado e quem eu vejo me cumprimentando cheio de amabilidades? O homem
da calça branca, aquele que nos havia negado ajuda no episódio da passarela. De
início recuei temeroso e o cara percebeu.
Eliseo, ele se chamava, e era locutor de
rádio. Meio sem graça ele tentou, digamos, consertar sua atitude anterior e eu,
reparando em seu desconforto, resolvi deixá-lo à vontade. Conversamos
longamente e constatei que na verdade ele é alguém amigável.
Chegou a hora de ir ao tratamento onde
faria minha consulta. Ao adentrar ao templo me vi em uma atmosfera totalmente
nova, nova e impressionantemente tranquila – era como se meu Ser tivesse sido
elevado a um plano muito superior, onde só havia paz e nenhum mal poderia me
atingir. Enquanto esperava minha vez de ser atendido resolvi fechar os olhos e
desfrutar dos mantras que estavam sendo entoados. Sempre
acompanhado por Eliseo, que desde nosso segundo encontro tinha virado
praticamente a minha agradável sombra, entrei na fila, mas não para ser atendido
e sim para receber passes. Qual não foi minha surpresa ao me deparar com meu
aprendiz de chela preferido! Sim, era
ele mesmo, André, que sorria e me oferecia uma tal de água vibrada pelos
mestres ali presentes. Enquanto sorvia a água e uma série de ditos sagrados
eram proferidos, um turbilhão de perguntas invadiu-me a mente: “Será que eu passaria
mal bebendo aquela água? Será que por beber aquilo ganharia a vida eterna? Até
que não seria nada mal receber a dádiva da vida eterna, pensei eu sorrindo
internamente”.
Chegou a minha hora.
Devido a minha deficiência fui posto em
atendimento preferencial e conduzido até uma adorável senhora que me recebeu
amável como uma avó. Me fez perguntas sobre a minha vida, e contei a ela que
além de jornalista eu sou estudante de canto lírico e várias outras coisas. Em
certa altura da consulta, ela indagou a razão pela qual eu estava ali e,
claramente, embora tenha tentado disfarçar, espantou-se com a resposta:
“Curiosidade!”, disse eu.
“Curiosidade boa, não é?!”, replicou
ela.
Respondi afirmativamente com um sorriso,
e a consulta seguiu seu rumo.
Isso, sempre com Eliseo a dois passos da
minha cadeira, pois ele havia pedido autorização àquela adorável senhora para
estar presente.
Voltei para casa – apesar de alguns
percalços, como, por exemplo, ter sido obrigado a trocar de ônibus porque a
plataforma travou no meio da porta, e com isso ter tido que aturar o mau humor
dos demais passageiros – com uma sensação de felicidade e enorme paz interior.
Nenhum comentário:
Postar um comentário