sexta-feira, 11 de julho de 2008

Terráqueos, aqui estamos nós!

Artigo:

Terráqueos, aqui estamos nós!

ANDREI BASTOS

Assim nós, pessoas com deficiência, poderíamos começar um diálogo neste mundo, pois é verdade que a estranheza diante das deficiências é uma característica geral da sociedade. Quando a situamos no mundo do trabalho, a despeito de todo o avanço tecnológico alcançado, com máquinas comandadas por computadores, com computadores comandados por olhos, ou mesmo por pensamentos, essa estranheza vira paradoxo.

Mas todos nós, pessoas com e sem deficiência, estamos começando a enxergar o valor da diversidade no mundo do trabalho.

Esta compreensão começa quando os profissionais que já estão numa empresa percebem que, por sua vez, os profissionais com deficiência, que estão chegando, são seres tão humanos quanto eles, muito longe de serem extraterrestres. Esta analogia serve bem para descrever a perplexidade muitas vezes encontrada nas empresas que se preparam para receber profissionais com deficiência. O pessoal fica sem saber como proceder, o que fazer, que atitudes tomar diante dos novos colegas. É a hora de dizer: “Calma, gente! Nós não somos de outro mundo!”

O significativo avanço do movimento das pessoas com deficiência que estamos vivendo oferece excelente oportunidade para acelerar essa compreensão. Embora ainda estejamos distantes da conquista da plena cidadania, nós conseguimos ocupar nos últimos anos um amplo espaço na mídia, tanto no cenário internacional como nacionalmente, principalmente a partir da afirmação dos Jogos Paraolímpicos como eventos de grande significado esportivo e político.

Portanto, a primeira missão dos militantes da nossa causa deve ser contribuir para informar e conscientizar a sociedade das questões referentes a nós e para promover o entendimento da Comunicação como poderosa arma contra o preconceito. Neste processo de comunicação, a novidade preciosa dos dias de hoje é a reflexão mais profunda sobre deficiência. Isto é possibilitado pelas condições favoráveis criadas pela associação da profusão de informações com a elevação da nossa auto-estima, pois estamos ocupando cada vez mais os espaços que nos são devidos na escola, no trabalho, nas cidades, na vida.

Já é possível ver alguns resultados dessa reflexão, como, por exemplo, no aumento do número de profissionais com deficiência empregados, na incorporação aos projetos arquitetônicos dos parâmetros de acessibilidade e, com destaque, nos muitos ganhos de causas judiciais favoráveis às pessoas com deficiência. E, certamente, o resultado mais emblemático do momento que vivemos é a percepção clara de que a Comunicação hoje é uma atividade fim para a nossa inclusão.

Ou seja: tanto externamente, na sociedade, como dentro das empresas, o uso adequado das ferramentas de Comunicação é fator decisivo para a efetivação da nossa cidadania plena porque acaba com nossa “invisibilidade”. No caso das empresas, uma boa comunicação favorece a integração harmoniosa com os demais empregados. No caso da sociedade, é o conhecimento da nossa realidade tão pouco incomum que cria os subsídios para a reflexão citada acima. Além disso, é esse encontro que determina que uma das principais matrizes do preconceito, a “invisibilidade”, pode ser superada com a compreensão de que somos iguais aos demais habitantes do planeta, mesmo sendo diferentes.

Portanto, senhoras e senhores, preparem-se para não fazer nada de especial ao receberem profissionais com deficiência em suas empresas. As necessidades especiais de algumas deficiências são facilmente atendidas com recursos arquitetônicos ou tecnológicos simples e baratos, restando apenas a grande barreira do preconceito para ser superada. É fácil, indolor e produtivo.

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