terça-feira, 24 de junho de 2008

A maioridade do Comdef-Rio

O genial cronista Nélson Rodrigues dizia que "toda unanimidade é burra". Longe de o Conselho Municipal de Defesa dos Direitos da Pessoa com Deficiência (Comdef-Rio) ter qualquer relação com o universo abordado pelos textos de Nélson sobre futebol, ele está mais para "A vida como ela é" e atualmente pode ser entendido como um bom exemplo da máxima sobre unanimidade citada acima. A começar por ser uma deficiência talvez a expressão mais contundente da idéia da "vida como ela é", pois não somos seres de outro planeta, e de que estamos neste mundo para conquistar a felicidade, a existência do Conselho se justifica, por sua vez, como a expressão mais contundente do esforço coletivo pela cidadania plena das pessoas com deficiência.

Sua constituição paritária, que se inicia agora, pode ser entendida exatamente como a maioridade atingida nos seus 21 anos de existência e luta, como o momento em que se estabelece a necessária proximidade entre sociedade civil e governo para que lhe seja atribuída total efetividade nas iniciativas, pois, mal comparando, é como estar com a faca e o queijo nas mãos. O que se espera não é o controle do Conselho por uma parte ou por outra, mas sim a consagração de uma parceria regida pelos mais altos interesses de inclusão social. Ou seja: será justamente o contraditório e a riqueza de argumentos de um organismo sem unanimidade burra, mas com possíveis consensos inteligentes, que poderão construir uma trajetória de sucesso.

O primeiro compromisso, e de primeira grandeza, do novo Comdef, paritário, que oferece a oportunidade para se avaliar e, se necessário, ajustar sua configuração atual, é a II Conferência Municipal da Pessoa com Deficiência, que antecede a estadual e desemboca na Conferência Nacional, em dezembro. A componente mais significativa desta conferência municipal será, sem dúvida, a realização simultânea de um fórum para discutir nossos problemas, cujos resultados constituirão o conteúdo forte a ser incorporado às propostas do município para o estado e para o país, eliminando da nossa prática os discursos políticos vazios.

Nossas expectativas são mais do que simples expectativas. O correto seria chamá-las de objetivos, na medida em que temos consciência do caráter positivo do momento que vivemos, contando com visibilidade e status inéditos, o que não permite que subestimemos nossas atuais oportunidades. Em função disso, é clara a compreensão de que nossa estratégia de luta pela cidadania plena passa pela determinação de prioridades no processo de conquistas, sem o que teremos que enfrentar uma desorganização contraproducente em nossas reivindicações, o que só produzirá mais confusões e não soluções.

Entre as várias citações possíveis capazes de demonstrar nosso avanço, duas merecem destaque. Primeiro, a clareza no entendimento de que a solução da questão do sistema de transporte público é fundamental para o equacionamento de todas as outras que, em última análise, decorrerão dessa primeira, e que é o maior exemplo de que atingimos um estágio de suficiente maturidade. Depois, a incorporação da prevenção à pauta das nossas maiores preocupações é, por seu turno, não apenas uma demonstração de maturidade, mas também a consagração de um forte elemento de interação com o resto da sociedade.

Portanto, é com este espírito de luta conjunta, que em vista da paridade já contém a inclusão na sua própria natureza, que hoje o Comdef pode dizer com muita propriedade: "Nada sobre nós, sem nós".