Por Ana Paula Blower
Abram alas que a festa mais colorida do ano está prestes a chegar. Falta pouco mais de um mês para os confetes e serpentinas tomarem as calçadas. Na avenida do samba, não há quem não possa passar. Por isso, há cada vez mais blocos com foco na inclusão, iniciativas que tornam a alegria do carnaval acessível e que a festa popular seja vivida e compartilhada sem distinções.
O Bloco Eficiente, que completa cinco anos em 2018, é um bom exemplo Idealizado pela jornalista Bruna Saldanha, ele surgiu da paixão da moça pelo carnaval e de sua experiência com a filha Izabel, de 9 anos, que tem paralisia cerebral. Bruna celebra as conquistas de sua iniciativa:
— A importância do bloco está em ter pessoas com vivências semelhantes juntas numa festa onde todo mundo é bem-vindo. Há ainda o fato de trazer o tema da inclusão à tona, pôr nossas questões para fora através de estandartes, da música… — diz Bruna.
A jornalista conta que o Eficiente veio após ela própria ter feito uma música, a Marcha da Cadeirinha, hoje hino do bloco. A letra foi uma espécie de inspiração para algo maior: “Sou cadeirante / Com muito orgulho / Sou cadeirante / Com muito amor / Inteligente, sou desse jeito / Cante comigo e leve embora o preconceito”.
O ensaio do bloco Eficiente, que busca músicos voluntários, será neste domingo, a partir das 16h, na Praça Paris, na Glória, com apoio do grupo ApoiaDown. Já o desfile oficial acontece um pouco antes da semana do carnaval, em 28 de janeiro, no mesmo lugar e horário.
Com um pouco mais de tempo de folia na bagagem, o Tá Pirando, Pirado, Pirou! é formado por pacientes e profissionais da rede pública de saúde mental do Rio. Em seu 14º ano, ele vem com o enredo “Foram me chamar! Eu estou aqui, na luta, na lida, no samba. Salve Dona Ivone Lara!”, uma homenagem à artista de 96 anos que trabalhou como enfermeira com a psiquiatra Nise da Silveira no antigo Centro Psiquiátrico Pedro II.
O desfile tradicionalmente é embalado por sambas conhecidos pelos foliões e este ano será também temático, trazendo o repertório de Dona Ivone Lara.
— Estamos muito animados. Vamos ter também uma ala infantil, com crianças e adolescentes que se tratam em serviços públicos de saúde mental — adianta o psicanalista Alexandre Ribeiro Wanderley, um dos fundadores do bloco.
Para colocar seu carnaval na rua com mais estrutura, o bloco está com um financiamento coletivo no ar. O link para colaborar e saber mais sobre o projeto e recompensas é www.benfeitoria.com/TaPirando2018. Mas, apesar das dificuldades financeiras, enfrentadas por muitos dos blocos cariocas, ele sai, diz Alexandre.
— Nosso desfile é também um ato político, aproveitando que o carnaval de rua tem essa dimensão — pontua. — A gente quer potencializar os recursos daqueles que se tratam nos Centros de Atenção Psicossocial (CAPS) e compõem o bloco, que essas pessoas ocupem outros espaços sociais.
O Tá Pirando, Pirado, Pirou! sai no dia 4 de fevereiro, com concentração às 15h na Avenida Pasteur, em frente à Companhia de Pesquisas Minerais, e vai até o Pão de Açúcar.
Na onda da tradição carnavalesca de nomes criativos de blocos, o Senta que eu Empurro, fundado em 2008, é formado por pessoas com deficiência e desfila toda sexta-feira de carnaval no Catete.
— O nome tem uma dupla interpretação. A ideia era que não segregasse: ele reuniu tanto a pessoa com deficiência, representada por quem usa cadeira de rodas, como o bom humor do carnaval — diz a organizadora Ana Cláudia Monteiro.
Ela ressalta que o objetivo do Senta que eu Empurro é dar visibilidade, integrar e socializar de forma descontraída, promovendo a alegria e a autoestima.
— É um bloco muito família em que as pessoas se divertem sem confusão. A ideia é que todos participem e curtam — conta Ana Cláudia, lembrando que novos integrantes são bem-vindos a compor a bateria, que tem cerca de 200 músicos voluntários.
Este ano, o bloco, que reúne cerca de 2.500 pessoas, sairá no dia 9 de fevereiro, com concentração às 19h, na Rua Artur Bernardes, no Catete.
Fonte: Globo Online.