segunda-feira, 8 de janeiro de 2018

Conheça os blocos de carnaval de rua que promovem a inclusão

Por Ana Paula Blower
Abram alas que a festa mais colorida do ano está prestes a chegar. Falta pouco mais de um mês para os confetes e serpentinas tomarem as calçadas. Na avenida do samba, não há quem não possa passar. Por isso, há cada vez mais blocos com foco na inclusão, iniciativas que tornam a alegria do carnaval acessível e que a festa popular seja vivida e compartilhada sem distinções.
O Bloco Eficiente, que completa cinco anos em 2018, é um bom exemplo Idealizado pela jornalista Bruna Saldanha, ele surgiu da paixão da moça pelo carnaval e de sua experiência com a filha Izabel, de 9 anos, que tem paralisia cerebral. Bruna celebra as conquistas de sua iniciativa:
— A importância do bloco está em ter pessoas com vivências semelhantes juntas numa festa onde todo mundo é bem-vindo. Há ainda o fato de trazer o tema da inclusão à tona, pôr nossas questões para fora através de estandartes, da música… — diz Bruna.
A jornalista conta que o Eficiente veio após ela própria ter feito uma música, a Marcha da Cadeirinha, hoje hino do bloco. A letra foi uma espécie de inspiração para algo maior: “Sou cadeirante / Com muito orgulho / Sou cadeirante / Com muito amor / Inteligente, sou desse jeito / Cante comigo e leve embora o preconceito”.
O ensaio do bloco Eficiente, que busca músicos voluntários, será neste domingo, a partir das 16h, na Praça Paris, na Glória, com apoio do grupo ApoiaDown. Já o desfile oficial acontece um pouco antes da semana do carnaval, em 28 de janeiro, no mesmo lugar e horário.
Com um pouco mais de tempo de folia na bagagem, o Tá Pirando, Pirado, Pirou! é formado por pacientes e profissionais da rede pública de saúde mental do Rio. Em seu 14º ano, ele vem com o enredo “Foram me chamar! Eu estou aqui, na luta, na lida, no samba. Salve Dona Ivone Lara!”, uma homenagem à artista de 96 anos que trabalhou como enfermeira com a psiquiatra Nise da Silveira no antigo Centro Psiquiátrico Pedro II.
O desfile tradicionalmente é embalado por sambas conhecidos pelos foliões e este ano será também temático, trazendo o repertório de Dona Ivone Lara.
— Estamos muito animados. Vamos ter também uma ala infantil, com crianças e adolescentes que se tratam em serviços públicos de saúde mental — adianta o psicanalista Alexandre Ribeiro Wanderley, um dos fundadores do bloco.
Para colocar seu carnaval na rua com mais estrutura, o bloco está com um financiamento coletivo no ar. O link para colaborar e saber mais sobre o projeto e recompensas é www.benfeitoria.com/TaPirando2018. Mas, apesar das dificuldades financeiras, enfrentadas por muitos dos blocos cariocas, ele sai, diz Alexandre.
— Nosso desfile é também um ato político, aproveitando que o carnaval de rua tem essa dimensão — pontua. — A gente quer potencializar os recursos daqueles que se tratam nos Centros de Atenção Psicossocial (CAPS) e compõem o bloco, que essas pessoas ocupem outros espaços sociais.
O Tá Pirando, Pirado, Pirou! sai no dia 4 de fevereiro, com concentração às 15h na Avenida Pasteur, em frente à Companhia de Pesquisas Minerais, e vai até o Pão de Açúcar.
Na onda da tradição carnavalesca de nomes criativos de blocos, o Senta que eu Empurro, fundado em 2008, é formado por pessoas com deficiência e desfila toda sexta-feira de carnaval no Catete.
— O nome tem uma dupla interpretação. A ideia era que não segregasse: ele reuniu tanto a pessoa com deficiência, representada por quem usa cadeira de rodas, como o bom humor do carnaval — diz a organizadora Ana Cláudia Monteiro.
Ela ressalta que o objetivo do Senta que eu Empurro é dar visibilidade, integrar e socializar de forma descontraída, promovendo a alegria e a autoestima.
— É um bloco muito família em que as pessoas se divertem sem confusão. A ideia é que todos participem e curtam — conta Ana Cláudia, lembrando que novos integrantes são bem-vindos a compor a bateria, que tem cerca de 200 músicos voluntários.
Este ano, o bloco, que reúne cerca de 2.500 pessoas, sairá no dia 9 de fevereiro, com concentração às 19h, na Rua Artur Bernardes, no Catete.
Fonte: Globo Online.

Prorrogação de mandato no Comdef-Rio

No D.O. de hoje foi publicado o Decreto nº 44201/2018 prorrogando o mandato 2015 - 2017 do Comdef-Rio por 12 meses ou até que sobrevenha nova regulamentação.

DECRETO RIO Nº 44201 DE 5 DE JANEIRO DE 2018

Prorroga o mandato 2015-2017 dos representantes do Conselho Municipal de Defesa dos Direitos da Pessoa com Deficiência - COMDEF-Rio.

O PREFEITO DA CIDADE DO RIO DE JANEIRO, no uso de suas atribuições que lhe são conferidas pela legislação
em vigor,

CONSIDERANDO as atribuições do Conselho Municipal de Defesa dos Direitos da Pessoa com Deficiência - COMDEF-Rio - descritas na Lei nº 4.729/2007;

CONSIDERANDO a importância do COMDEF-Rio como órgão de controle social das políticas públicas referentes às pessoas com deficiência do município do Rio de Janeiro;

CONSIDERANDO a inviabilidade de um novo mandato do COMDEF-Rio, tendo em vista que a representação governamental do Conselho, segundo a Lei nº 4.729/2007, está desatualizada perante a nova estrutura da Prefeitura do Rio de Janeiro, impossibilitando, assim, a paridade na representação do governo e da sociedade civil e, consequentemente, novo processo eleitoral;

CONSIDERANDO a elaboração de nova lei que alterará o processo eleitoral, a composição e a estrutura do COMDEF-Rio;

CONSIDERANDO que a Assembleia é instância máxima de deliberação do COMDEF-Rio, conforme artigo 10 do seu Regimento Interno;

CONSIDERANDO a deliberação dos conselheiros, por unanimidade, pela prorrogação do mandato 2015-2017, na Assembleia Ordinária do dia 15 de dezembro de 2016,

DECRETA:

Art. 1º Fica prorrogado excepcionalmente, a partir da presente data, pelo prazo de doze meses, ou até que sobrevenha nova regulamentação, o mandato 2015-2017 dos representantes do Conselho Municipal de Defesa de Direitos da Pessoa com Deficiência - COMDEF-Rio, relativamente aos mandatários da sociedade civil, para que democraticamente e com observância ao devido processo legal, sejam eleitos novos representantes em conformidade com a lei que ora se encontra em processo de alteração e que estabelecerá novo formato ao Conselho.

Parágrafo único. Caberá aos órgãos de governo, com representatividade no COMDEF-Rio, o encaminhamento dos nomes dos seus representantes para cumprimento da prorrogação de mandato estabelecida no caput.

Art. 2º Este Decreto entra em vigor na data da sua publicação.

Rio de Janeiro, 5 de janeiro de 2018; 453º ano da fundação da Cidade.

MARCELO CRIVELLA

quarta-feira, 27 de dezembro de 2017

Vontade política

O Globo, Opinião, 26/12/2017:

Vontade política

ANDREI BASTOS

Há algum tempo, fui convocado para um debate sobre a nova Comissão Permanente de Acessibilidade (CPA) carioca. Trata-se da reencarnação de uma CPA, que nem “para inglês ver” serviu, promovida pelo atual prefeito do Rio.

Uma outra “reencarnação” vinha sendo defendida pelo também carioca Conselho Municipal de Defesa dos Direitos da Pessoa com Deficiência (Comdef-Rio), que no seu documento Políticas Públicas Municipais para as Pessoas com Deficiência, entregue ao prefeito, apresentava como primeira ação prioritária dar mais poder à comissão para liberar, ou não, os alvarás e habite-se baseados no atendimento às exigências de acessibilidade.

Talvez pelo desconhecimento de que a acessibilidade beneficia a todos, e não apenas a quem tem deficiências, e que, por isso, representa um grande avanço civilizatório, a atual gestão municipal não aplicou inteiramente o que o Comdef-Rio apresentou à CPA hoje reencarnada, que não tem caráter deliberativo e autorizativo e está muito aquém das necessidades de nossa cidade, tão desprovida de políticas públicas de acessibilidade, como ficou evidente na última reunião da CPA de que participei, agora em dezembro.

Pois bem, quando fiquei sabendo que no debate para o qual fui convocado seria apresentado o acessível mundo de Silvana Cambiaghi na cidade de São Paulo, que, apesar de ainda ter problemas, está mil anos-luz à frente do nosso indigente município do Rio de Janeiro, pensei em me apresentar fazendo-lhe um contraponto com as nossas mazelas, fotografando meu trajeto, em cadeira de rodas, entre a Zona Sul e o Centro do Rio de Janeiro usando o transporte público.

Desisti. Não tenho tanta capacidade física para tão dura prova de obstáculos.

Mas não foi difícil estabelecer um contraponto a Silvana Cambiaghi, pois, além das excelentes imagens comprovando as conquistas de acessibilidade urbana que apresentou, ela ressaltou diversas vezes que o mais importante era a vontade política de fazer acontecer as coisas certas, contando que a CPA de São Paulo já começou com esta vontade política, na época manifestada, justiça seja feita, pelo prefeito Paulo Maluf, que deu plenos poderes à Comissão.

Aqui, na Cidade Maravilhosa, só existiu a vontade das pessoas com deficiência que, tempos atrás, saíram das ruas, onde vendiam doces nos sinais de trânsito, e conseguiram organizar o primeiro conselho municipal de pessoas com deficiência do Brasil, exclusivamente com a sociedade civil, por orientação de Jó Rezende, que se notabilizou por organizar associações de moradores na gestão do prefeito Saturnino Braga.

Depois de algum tempo, o conselho da época convocou o poder público a também participar, na esperança de que ele se tornasse o braço executor. Muito mais deficiente do que qualquer deficiência, a falta de vontade política impediu qualquer avanço e o conselho passou a ser apenas um apêndice deste mesmo poder público, o que, espero, não aconteça com esta CPA reencarnada.


Andrei Bastos é jornalista e integrante do Comdef-Rio

Também no Globo Online.

quarta-feira, 12 de julho de 2017

Posse da nova Comissão Permanente de Acessibilidade do Rio

Ontem, dia 11, foi o dia da posse da nova CPA - Comissão Permanente de Acessibilidade do Rio de Janeiro, da qual o Comdef-Rio faz parte.
Andrei Bastos, representante do Comdef-Rio na CPA, assina o livro de posse.
Eliane Sakamoto, suplente de Andrei Bastos na CPA, assina o livro de posse.
Regina Cohen, representante da UFRJ na CPA, assina o livro de posse.

A Lei Brasileira de Inclusão e o controle social

No domingo, dia 9, na mesa do Conade sobre a LBI - Lei Brasileira de Inclusão e controle social, do Mobility & Show Rio 2017, o Comdef-Rio foi representado por Andrei Bastos.
Após a mesa do Conade, uma boa conversa com Décio Gomes Santiago (Onedef).

sábado, 8 de julho de 2017

A Comissão Permanente de Acessibilidade do Rio de Janeiro

Hoje, no evento Mobility & Show Rio 2017, de exposição de automóveis, veículos e adaptações, equipamentos e serviços para pessoas com deficiência e familiares, o Comdef-Rio manifestou seu posicionamento em relação à nova CPA - Comissão Permanente de Acessibilidade criada pela prefeitura carioca, numa mesa de debates dedicada a ela:

A Comissão Permanente de Acessibilidade do Rio de Janeiro

Como sempre, e hoje mais do que nunca, o Estado brasileiro, nas esferas federal, estadual e municipal, está distante da realidade da população à qual deveria servir.

Como sempre, e hoje mais do que nunca, os políticos brasileiros, com raras exceções, agem por motivos fúteis ou por motivos inconfessos, estando comprometidos apenas com o poder que lhes permite agir.

Tudo o que acontece no Estado, nas esferas federal, estadual e municipal parece acontecer em outro mundo que não o da cidadania.

Embora as pessoas com deficiência, com o seu movimento organizado de luta por direitos, tenham obtido muitas conquistas, sem ficar devendo nada a ninguém, ainda falta um mundo inteiro a ser conquistado.

É nesse mundo que falta ser conquistado que está a Comissão Permanente de Acessibilidade (CPA) do município do Rio de Janeiro.

Afinal, com uma composição marcada pela presença maciça de órgãos do governo municipal, sem autonomia político-financeira, sem caráter deliberativo, com natureza prevalentemente técnica e sem uma participação equivalente da sociedade civil organizada representativa das pessoas com deficiência, esta CPA é apenas mais um apêndice do poder constituído no momento.

Desse jeito, sendo esta CPA, na melhor das hipóteses, uma coisa “pra inglês ver”, sem poder de veto a iniciativas que não atendam ou prejudiquem os direitos das pessoas com deficiência, o Conselho Municipal de Defesa dos Direitos da Pessoa com Deficiência do Rio de Janeiro (Comdef-Rio), que por força institucional participa da composição da CPA, manifesta sua discordância e seu empenho em lutar por mais uma conquista para as pessoas com deficiência na forma de uma CPA efetiva e verdadeira.

ANDREI BASTOS

Comdef-Rio

domingo, 4 de junho de 2017

Cidadã Luciana

ANDREI BASTOS

Todo dia ela faz tudo sempre igual. Às quatro horas da manhã, abre os olhos para o dia num movimento rápido como um susto, sem estar assustada. É apenas o jeito, tranquilo, de quem abre os olhos como duas janelas para um mundo muito maior do que aquele que enxergamos normalmente, pois o imenso mundo de Luciana começa logo diante de seus olhos e não depois do alcance de seus braços e pernas.

Depois de mover o olhar para um lado e outro, tomando ciência de que tudo está no devido lugar, que as pessoas que a ajudam estão com ela, que os equipamentos que a mantêm respirando estão funcionando perfeitamente, ela sorri para quem está à sua frente.

Começam, então, os cuidados de higiene, alimentação, vestimenta e, indispensavelmente, maquiagem. Cuidadosamente, é penteado o cabelo, aplicado o pó facial e o batom vermelho vivo como a vida que anima Luciana. Este ritual diário dura no mínimo três horas e, só depois de cada detalhe atendido, com a cidadã Luciana já acomodada em sua cadeira de rodas de alta tecnologia, ela é levada ao carro adaptado que a deixará no trabalho.

Apesar de suas próprias e severas limitações, a perseverança e fé de Luciana a tem levado pelos caminhos que escolheu. Mas, como se não bastasse, a sociedade, com falta de acessibilidade e com transporte público inadequado, impõe a ela mais limitações, dessa vez com o preconceito e a discriminação.

Ao decidir estudar enfermagem, Luciana revelou seu desejo de ajudar as outras pessoas nos seus momentos de fragilidade e doença. Ao ficar impossibilitada de fazer esse trabalho, escolheu como o primeiro caminho estudar e se preparar para Serviço Social. Bem-sucedida nessa etapa, sua vocação a levou naturalmente a vislumbrar na política possibilidades maiores de realização. Não obteve sucesso imediato, mas não desistiu e continuou a caminhar na mesma direção.

Independentemente da política partidária, Luciana se integrou a grupos da sociedade civil que trabalham na defesa de direitos das pessoas com deficiência, acrescentando um profundo conhecimento de outras realidades, e dificuldades, diferentes das suas. Enquanto atendia ao que seria unicamente uma vocação, ela dava início à sua conscientização e exercício de cidadania. Luciana descobriu o mundo dos cegos, dos surdos, dos paralisados cerebrais, da síndrome de Down.

Duas vezes por mês Luciana participou das reuniões de um grupo que se dedica às políticas públicas municipais referentes às pessoas com deficiência como ela. Sua tetraplegia não a impede de, além de viver uma existência compartilhada com familiares e amigos, lutar pelos direitos de seus pares e das pessoas em geral, exercendo, assim, plenamente, sua cidadania.

O grupo de que Luciana Novaes participou é o Conselho Municipal de Defesa dos Direitos da Pessoa com Deficiência do Rio de Janeiro (Comdef-Rio), que se orgulha de ter contado com ela entre seus membros por sua luta pela vida e por ser a primeira pessoa com deficiência a se eleger para a Câmara Municipal.

Andrei Bastos é jornalista e membro do Comdef-Rio